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Realmente faziam arte com os gabinetes de fliperama. Uma pena não vermos mais isso hoje em dia. |
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Gun Fight, provavelmente o primeiro jogo de faroeste |
Após o "estrago permanente" que a Atari causou com Pong em 1972, além de permitir o desenvolvimento da tecnologia que se tornaria o Atari 2600, surgiram inúmeras tentativas de repetir tal sucesso e desbravar a recém surgida indústria de jogos eletrônicos. Dentre os muitos clones de Pong, em 1975 o jogo Gun Fight entrou para a história nos fliperamas por abordar mecânicas semelhantes a Pong, porém nada de tênis de mesa: aqui ocorria a carnificina dos duelos de pistolas do velho oeste norte americano, retratado em um sem número de filmes e livros do século XX. Nele, ao invés das barrinhas temos dois duelistas, um em cada extremidade, e ao invés da bola de ping-pong, temos balas atiradas pelos cowboys/xerifes/foras da lei/pistoleiros (a cargo da imaginação do jogador, pois não havia nenhuma referência a estes papéis no jogo. Como esperado, o primeiro a acertar o adversário vencia o duelo.
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Um lindo flyer da época. |
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Boot Hill permitia controle preciso da mira. |
Não é de Gun Fight que venho falar hoje, mas sim de sua sequência: Boot Hill. Desenvolvido e lançado pela Midway em 1977, ele tem a mesma premissa de Gun Fight, porém com alguns detalhes que modificam a experiência e aprofundam muito a competição. Ele pode ser jogado por uma ou duas pessoas, sendo que com apenas um jogador, enfrenta-se a máquina.
O gabinete apresenta uma configuração no mínimo interessante: usam-se duas alavancas, sendo a menor delas usada para mover o pistoleiro verticalmente e a segunda, a maior, usada para definir o ângulo em que o jogador aponta a arma, permitindo, diferente do antecessor, a mirar de longe, sem a necessidade de alinhar os duelistas, como era em Gun Fight, tornando Boot Hill muito mais competitivo e intenso. Um gatilho na alavanca maior permite atirar.
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O layout do painel combina perfeitamente com a premissa do jogo, permitindo muita precisão nos combates. |
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A possibilidade de mirar os tiros trouxe um novo grau de profundidade, tensão e estratégia ao jogo. |
Há obstáculos pelo caminho, como carruagens e cactos, que permitem proteção temporária dos tiros, que podem acabar destruindo esses obstáculos após algum tempo. Boot Hill é um clone de Pong no qual além de reflexos apurados, é preciso algum grau de estratégia, gerando uma competitividade tão intensa quanto em Pong, não pela velocidade dessa vez, mas sim pela tensão criada, reproduzindo muito bem a tensão de duelos de filmes de faroeste.
Aliás, as animações transmitem muito bem a inspiração do material fonte: os clássicos filmes de faroeste italiano, de nomes como Lee Van Cleef, Clint Eastwood, Gary Cooper... É um dos raros casos da década de 1970 em que o jogo não envolve tiroteios espaciais e esportes. Inclusive, Boot Hill é também o nome de um filme de faroeste (em português intitulado de A Colina dos Homens Maus) estrelando Terrence Hill e Wood Strode.
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Um dos primeiros jogos da história a ter um tutorial. |
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Uma das máquinas com plano de fundo. |
Os visuais são muito simples, com uma tela fixa e fundo escuro com personagens e objetos monocromáticos e rasterizados ou pixelados. Algumas máquinas apresentam um plano de fundo desenhado à mão no próprio monitor. Os sons são interessantes se considerarmos a época: o som dos tiros é convincente, e quando um dos pistoleiros morre, toca ao fundo uma marcha fúnebre. Primitivo, porém eficiente. As animações são surpreendentemente fluidas e os controles são excelentes, sendo possível se movimentar para os lados, verticalmente e até em diagonais, tudo isto enquanto controla-se a mira. É um jogo desafiante, mas seu verdadeiro brilho está no modo para dois jogadores. Extremamente divertido, é um clone de Pong mas com personalidade muito própria, por mais paradoxal que isso possa parecer. Boot Hill é um jogo que deve ser jogado por qualquer um que seja vagamente interessado em jogos antigos, porém minha maior recomendação é se você tiver alguém para jogar junto.
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Assim como no filme homônimo, em Boot Hill "a morte vem em duas cores". |
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