O ritmo de postagens do blog diminuiu bastante desde o segundo semestre e 2017, para uma quantia de publicações bem abaixo do que eu gostaria. De todo modo, o blog continua ativo e vivo, mesmo com textos mais esporádicos. Antes de iniciar este texto, eu gostaria de deixar aqui registrado que este post não faz apologia a nenhuma forma de pirataria, nem tampouco incentiva sua prática. Tudo o que está relatado aqui é uma visão pessoal sobre a realidade dos jogos de videogame na terra de Vera Cruz. Tão e somente isto. Sem maiores introduções, vamos lá!
Quando e como começamos a ter acesso a tantos jogos?
Eu me lembro muito claramente de quando eu era criança em 1999, época em que não era barato comprar um cartucho de Super NES, quanto menos ainda aqueles cartuchos incríveis de Nintendo 64 que eu apenas namorava de longe porque meu console era o SNES. Me lembro de que ter acesso a muitos jogos era algo impossível, pois mesmo ao alugar cartuchos o custo não era barato se fosse levar em conta o tempo que poderíamos passar com cada jogo. Isto sem contar os fliperamas/arcades, que permitiam apenas partidas muito curtas - embora divertidíssimas - que podiam sair bem caros, recorrendo no mesmo problema do aluguel de cartuchos: acabava saindo caro.
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Não dava para ter muitos jogos, era preciso realmente escolher com cuidado. Repare o Mission Impossible, mais caro do que o Mario 64 |
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Talvez hoje em dia esses jogos de SNES nem pareçam tão caros, mas antigamente esses valores impediam a montagem de uma coleção grande |
Um belo dia, conheci o PlayStation por intermédio de um amigo de infância que o tinha comprado, porém com um detalhe crucial: era destravado e rodava CDs piratas. Eu achava impressionante como um console que a meus olhos de criança parecia tão incrível quanto o então inalcançável Nintendo 64, pudesse ter seus jogos tão baratos. E eu via que meus amigos com ps1 tinham jogos aos montes, do jeito que eu sempre quis ter para o SNES. A título de comparação, na prática, eu tive no máximo 8 cartuchos, acumulados em um período de 5 anos, e 5 deles eram piratões da galeria pajé (talvez um dia eu entre em detalhes neste sentido), enquanto que os amigos que tinham poucos jogos de PS1, tinham 20...
Tive também um Gameboy Color em 2001, mas apenas com Pokémon Silver que joguei por muito tempo, além de um cartucho pirata com 10 jogos antigos do Gameboy Classic. Lembrando que os cartuchos originais de GBC também eram caros. O tempo passou e aos 13 anos lá em 2003 eu pude ganhar um console novo, e optei por um Gamecube, sem levar em conta que eu poderia ter um PS2 destravado com muitos jogos... E como os jogos de GC eram muito caros e não tão simples de achar na minha cidade, tive poucos títulos em casa (poucos sim, mas inesquecíveis e que joguei à exaustão até abrir tudo) ao invés das muitas opções que eu viria a ter caso eu tivesse um PS2...
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Wind Waker foi um jogo que esmiucei à exaustão na época |
No entanto eu havia descoberto nesta mesma época algo que mudaria para sempre minha relação com os jogos: os emuladores para Windows. Em 2004 tínhamos em casa um PC razoavelmente bom para a época, que conseguia rodar o primeiro The Sims e o Sim City 3000 (que eu jogava muito!) com uma performance muito satisfatória, mas nada de rodar jogos atuais dessa época como Prince of Persia Sands of Time e Half Life 2 por exemplo... Não me lembro ao certo como aconteceu mas um dia eu baixei o emulador de Super Nintendo e algumas roms com conexão discada tarde da noite... De início eu não sabia como usar esses programas, mas ali no computador ficaram, até que eventualmente eu aprendi a usar o zsnes e ali estavam disponíveis jogos que eu não conseguiria comprar pois como falei antes, cartuchos originais eram muito caros na época ou difíceis de achar para comprar onde eu morava.
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De repente eu podia jogar Zelda de SNES, cartucho que nunca consegui encontrar na época |
Fato é que o PC estava rodando Donkey kong Country 2 e 3, Zelda Link to the Past, Final Fantasy 2 e 3, Top Gear 2 e 3000... um monte de jogos caros que eu sempre quis ter no SNES e não tinha! E tudo isso levando apenas 30 a 45 minutos com o download de cada jogo. Embora hoje seja algo trivial, naquela época aquilo foi uma revelação tremenda, que ficou ainda melhor depois que começamos a ter banda larga pelo antigo Speedy. Pela primeira vez eu tinha uma coleção grande de jogos completos à disposição para curtir à vontade.
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Outro cartucho que nunca consegui achar na infância |
Em algum momento adquiri um controle para PC (ainda nem era USB, era aquele modelo de pinos!!!) para jogar as roms de Super Nintendo que eu não conhecia ainda, pois só pelo teclado não era legal jogar os títulos de ação. Então talvez este momento entre 2004 a 2006 seja a primeira vez em que eu pude ter acesso a muitos jogos de uma só vez. Nessa época tive ainda acesso ao emulador de GBA quando o console ainda estava na ativa e seus cartuchos ainda eram inacessíveis de tão caros... tinha ainda opções de filtros de imagem... Enfim, nesse espaço entre o fundamental e o ensino médio eu fiz a festa com os jogos antigos. E foi nessa pegada que em 2007 eu com meus 16 anos concluí que eu não precisava do meu Super NES
e doei para um amigo da família para que ele doasse a alguma criança na época.
Fato é que com o passar dos anos os computadores e os emuladores só melhoraram, aumentando a oferta de jogos disponíveis. Não apenas por meio dos emuladores ou piratões se tem muitos jogos, no entanto: a Steam e as lojas virtuais dos consoles modernos (em detrimento das mídias físicas) têm promoções diárias, tornando os jogos muito mais acessíveis hoje em dia. Como resultado, há de fato uma gama muito maior de títulos à nossa disposição para jogar.
De onde vem a indecisão?
Desde que passamos a ter maior acesso às informações e aos jogos em si, provavelmente o excesso de recomendações seja um dos motivos para começarmos tantos jogos sem no entanto levá-los a cabo. Sempre tem algum jogo "obrigatório" e clássico de algum console que deixamos passar, porque é impossível ter jogado de tudo na época desses sistemas antigos (e únicos do mercado livre... ¬ ¬). Desta forma, todos têm aquilo que o pessoal mais velho chama de "pecado gamístico". Outro fator óbvio e importante é que a cada geração que passa, aumenta o número de clássicos recomendáveis, assim como o acesso a eles, pois os emuladores melhoram a cada ano, assim como lojas online como a Steam apresentam cada vez mais opções e com ótimos preços e promoções. Sem contar os desbloqueios malucos que a comunidade desenvolve para consoles como PS2, Wii, Xbox, PSP... Isso leva ao que alguns chamam de síndrome do labirinto (muito bem explicada pelos excelentes
Shugames e
Projeto Jogatina), que é um nome sofisticado para a pura e simples indecisão.
Um importante ponto a lembrar é que a esmagadora maioria do pessoal que aprecia jogos antigos é composta das crianças daquela época, que hoje são adultos. E como é evidente, não temos muito tempo livre. Temos muitas obrigações, metas, famílias a cuidar, contas a pagar... Enfim, nós crescemos, portanto não temos mais todo aquele tempo livre para esmiuçar os jogos. Esses ingredientes se juntam à era digital para deixar nossa jogatina limitada, contribuindo muito para a indecisão. Esta indecisão, por sua vez, consome mais ainda do pouco tempo livre que temos, pois com ela perdemos o precioso tempo, ao invés de aproveitá-lo.
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Com tantas opções ao alcance de nossos dedos para assistir, é comum perder tempo escolhendo. |
Aliás, isso não só ocorre com os jogos, mas também com livros, filmes e séries. Quem nunca ficou na dúvida de qual livro começar a ler? Quem nunca ficou vários minutos para decidir o que assistir no Netflix? Qual música tirar no violão? Meia hora para escolher um sabor de pizza?? Síndrome do labirinto por toda a parte dos meios de entretenimento, meus amigos...
E como resolver isto?
Entendo que o primeiro passo é simplificar as coisas: é importante aceitarmos que na fase adulta temos pouco tempo livre mesmo. Cada fase da vida tem seus contras, mas também têm sua cor e o seu valor. Considero importante aceitar a condição em que vivemos para que não sejamos eternos insatisfeitos com as condições do presente (sem desistir de melhorar, evidentemente). Segundo passo, não ter muito medo de perder tempo ao não gostar de algo e escolher logo o que fazer, não importa se é livro, jogo, filme, passeio... Tudo na vida tem seus bons momentos, não se importe em escolher a melhor coisa de acordo com criticas de especialistas ou opiniões alheias. Então este princípio se resume ao conceito de não pensar tanto antes de começar algo.
É importante também ressaltar que às vezes uma atividade lúdica destas pode ser vista de forma involuntária como algo parecido com um trabalho. Por exemplo: preciso zerar logo o jogo X para começar o jogo Y; ou, largar o jogo Y no meio porque o jogo Z é um clássico... Isto faz com que se perca a essência primordial de jogar videogames: relaxar, descontrair, curtir, e simplesmente estar mais calmo e feliz do que quando começamos. E não é por isso que jogávamos quando éramos meninos? Era porque era divertido, não porque tínhamos uma lista a seguir.
Além das mudanças de pensamento, uma forma legal é mudar o comportamento ao jogar. Comigo, tem funcionado muito bem o seguinte: eu escolho algum jogo e vou jogando, independentemente de ter pouco tempo livre. Vou jogando e progredindo enquanto for divertido. Agora eu só paro no meio se eu não gostar do jogo, e não me forço a tentar zerar se eu não curtir. Nesse começo de ano, minha esposa e eu zeramos o New Super Mario Bros Wii no cooperativo e foi sensacional. Agora estamos tentando abrir as fases do mundo especial, e isto se deu naturalmente, porque o jogo não enjoou, portanto vamos jogando até enjoar. No modo single estou jogando o Mega Man Battle Network de GBA, que tem um sistema de batalhas absurdamente divertido. Às vezes passo dias sem jogar, mas estou voltando a ele sem pressa de zerar quando eu posso. Enquanto eu não paro com estes, nada de new game em outro jogo, nem para testar. Estou fazendo o mesmo com livros e filmes, sem pensar muito antes de começar.
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O início do jogo e seu sistema me causaram uma certa estranheza, mas um pouco de paciência me brindou com um RPG super divertido. |
Como hoje em dia temos acesso a tantos meios de entretenimento a cliques de distância, é preciso gerir este foco, não forçando-se a ir até o final com algo, mas sim descontraindo e focando no principal com uma atividade dessas: um momento de descontração e lazer. E gostaria de terminar estes comentários lembrando que uma das melhores coisas com um meio de entretenimento é interagir com pessoas queridas. Eu acredito que o "brincar" é uma das formas mais verdadeiras de se compartilhar momentos especiais e alegrias.
E vocês, o que acham sobre isso?